João Tancredo – Escritório de Advocacia

Além de Thiago Gagliasso, mãe de morto no Jacarezinho ganhou outras sete ações por danos morais; ‘Sonho em comprar uma casinha’, diz

Por Eliane Santos – g1 Rio – 08/08/2022

Além do ator Thiago Gagliasso, condenado em primeira instância a pagar R$ 10 mil por danos morais, Adriana Santana de Araújo Rodrigues já venceu outras sete ações contra políticos e personalidades que atribuíram falsamente a ela a identidade de uma mulher que aparecia em um vídeo segurando um fuzil.

Juntas, as indenizações somam R$ 70 mil, e poderiam ajudar a mudar a vida da mulher que ficou conhecida ao aparecer na TV durante a operação no Jacarezinho reclamando o filho Marlon Santana De Araújo, que morreu na ação. Depois do desabafo em rede nacional, vieram as fake news, o apelido ingrato de “vovó do fuzil” e uma batalha incessante para limpar sua imagem.

“Nunca pensei que isso tudo fosse acontecer. Eu simplesmente fui atrás do meu filho na comunidade e me filmaram na saída gritando, desesperada e fizeram aquela fake news. Sou humilde, mas criei dois filhos vendendo água no sinal. Não vou deixar virem me chamar de bandida”, diz.

Quando soube que havia ganhado a ação contra o Thiago Gagliasso, Adriana contou que pretendia reverter o valor para o projeto de distribuição de quentinhas para moradores de rua.

Já sobre as outras ações, ela tem sonhos, mas ainda não consegue planejar a vida.

“Sonho em comprar uma casinha. Vivo de aluguel, a idade está chegando, estou com uma vida cansada, sofrida, com problemas de saúde e com os traumas que carrego comigo. Mas não sei se será possível. Das ações que ganhei, recebi um e a outra me pagam parcelado para a favelada aqui. Esse dinheiro uso para pagar meu aluguel, me manter e nem sempre sobra para juntar”, conta ela que, por causa da síndrome do pânico que desenvolveu, nem sempre consegue sair para trabalhar com vendas.https://c3103445f8d4c17d39b6f2c481979f31.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

Ações já vencidas e já em vias de pagamento

  • Contra o deputado estadual Filippe Poubel (PL – RJ) – Condenado a pagar R$ 5 mil por dano moral, mas não obrigado a publicar a sentença em suas redes sociais.
  • Contra o deputado estadual Gil Diniz (PL-SP) – Condenado a pagar R$ 5 mil por dano moral, mas não obrigado a publicar a sentença em suas redes sociais. Fez acordo para pagar o valor parcelado em duas vezes.
  • Contra a deputada estadual Delegada Sheila (PL/MG) – Condenada a pagar R$ 10 mil, mas não obrigada a publicar a sentença em suas redes sociais.

Ações com recursos sendo julgados

  • Contra o deputado federal Luís Miranda (Republicanos- DF) – Condenado a pagar R$ 10 mil por dano moral, mas não obrigado a publicar a sentença em suas redes. A ação tem um recurso de Adriana, que pede a majoração do dano moral para R$ 20 mil e a publicação da sentença nas redes de Luís Miranda.
  • Contra o ex-senador Magno Malta (PL- ES) – Condenado a pagar R$ 10 mil por dano moral e a publicar a sentença em suas redes e em jornal de grande circulação. Entrou com recurso extraordinário no STF onde aguarda admissibilidade.
  • Contra do deputado federal Capitão Alberto (PL-AM) – Condenado na mesma ação que julgou Magno Malta. Também terá que pagar R$ 10 mil por dano moral e a publicar a sentença em suas redes e em jornal de grande circulação.
  • Contra o ator Thiago Gagliasso – Condenado em primeira instância no final de junho a pagar R$ 10 mil por dano moral. O prazo para recurso da sentença começou a contar no dia 7 de julho.

Os advogados de Adriana exaltam as vitórias da dona de casa na Justiça. João Tancredo as considera, mesmo as que ainda estão sob recurso, bastante didáticas.

“As vitórias da Adriana na Justiça são emblemáticas. Mostram que os poderosos não podem tudo contra o povo. Porém, os valores (da indenização) ainda são muito baixos, como se o direito de um favelado fosse inferior”, diz ele acrescentando ainda.

“Como se não bastasse a morte do filho, tentaram assassinar a dignidade da Adriana”, disse.

Já a advogada Luiza Capanema, que também atua no caso, destaca a punição para as fake news.

Ator deverá fazer retratação

Além da condenação de Thiago Gaglisso, homologada na terça-feira (28), o ator terá que publicar uma retratação “com o mesmo alcance” da publicação anterior em até cinco dias. Ele deve falar sobre a sentença e confirmar que a mulher do vídeo não era Adriana. A sentença está com prazo de 10 dias aberto para recurso.

“Até essa condenação, não sabia quem era Thiago Gagliasso, nunca tinha ouvido falar dele. Sabia quem era o Bruno Gagliasso, que sempre acompanhei e é uma pessoa edificante. Fui saber que esse cara era irmão do Bruno quando ele apareceu para falar de mim e da minha família. Achei boa a condenação. Só lamento que ele use o sobrenome Gagliasso porque mancha a imagem do Bruno, que é uma boa pessoa. Esse cara é um nada. Era isso que eu queria falar para ele nas audiências do processo que ele não foi. Ele é um nada. Mas nem assinar as convocações para as audiências, ele assinou”, disse Drica ao g1.

Ator ironizou situação

Em redes sociais, no domingo (3), o ator ironizou a repercussão da decisão: “Bom dia para quem acordou condenado e sequer foi notificado do processo”.