João Tancredo – Escritório de Advocacia

Família de funcionário atingido por trem do metrô diz que concessionária tenta evitar pagamento de cuidados: ‘Pesadelo’

Notícia Externa

Por Matheus Rodrigues – G1 – 26/05/2021

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A família de Tiago Santana Ferreira, de 34 anos, relata que vive um “pesadelo” para tentar dar uma vida mais digna para o agente de segurança do metrô do Rio, que ficou em estado vegetativo após um acidente de trabalho.

A concessionária tenta anular uma decisão judicial, que determina o pagamento de alguns cuidados ao funcionário fora da pensão, mas afirma que “presta todo o auxílio necessário para que Tiago esteja bem assistido”.

“A gente não está cuidando de uma pessoa para ela melhorar, para ela ficar boa. A gente está cuidando de uma pessoa para ela continuar viva (…) Se você olhar os olhinhos do Tiago, eu vejo ele dizendo assim: ‘mãe, eu estou aqui’. Eu não leio ‘quero morrer’. Eu leio ‘estou aqui’. Porque isso é o Tiago, ele sempre foi muito determinado”, disse mãe de Tiago, Maria de Fátima Santana, em entrevista ao G1.

Aos 62 anos, Maria de Fátima afirmou que sua rotina foi inteiramente voltada para os cuidados do filho após o acidente em 2019. Ela contou que o rapaz foi atingido por uma composição ao tentar resgatar uma nota de R$ 50 de uma passageira, que deixou cair na linha férrea da estação Cinelândia, no Centro do Rio.

Segundo a família, Tiago perdeu mais de 50% de massa encefálica no acidente. Atualmente, ele precisa de cuidados médicos 24 horas por dia e adaptações em sua rotina.

“O Tiago perdeu a calota, a calota do Tiago esfarelou. O Tiago perdeu essa parte [frontal] da face (…) Ele faz fisioterapia todos os dias, faz fonoaudiologia três vezes na semana”, disse a mãe.

O trauma aconteceu por volta das 18h e ele foi encaminhado para o hospital Municipal Souza Aguiar, onde esperou até as 4h do dia seguinte para um leito de CTI para internação. A família diz que a demora para Tiago ser assistido foi determinante para o estado em que ele se encontra.

“Ele sofreu acidente por volta de 18h, ficou no [Hospital] Souza Aguiar até as 4h do dia seguinte. Ele ficou todo esse tempo para receber os primeiros socorros. A gente só foi ter um panorama por volta das 8h do dia seguinte. Essa demora é inexplicável para um acidente tão grave”, afirmou o irmão Vitor Santana Ferreira, de 33 anos.

Metrô descumpre decisão judicial

Os familiares do funcionário do Metrô Rio entendem que a possibilidade de evolução é pequena, mas querem dar uma melhor condição de vida para Tiago Santana Ferreira.

“O que a ciência me diz, é isso aí. O Tiago não enxerga, obviamente comprometeu um pouco da audição, o tato, o olfato. Resumindo: é um bebê. Um bebê sem esperança de desenvolver. Hoje para o metrô, ele se tornou um infortúnio porque não morreu”, disse Maria de Fátima.

A Justiça concedeu uma tutela em caráter de emergência, que prevê o pagamento de uma cuidadora e o aluguel de uma casa adaptada para a vítima do acidente. O metrô não estava cumprindo a medida, mas afirmou ao G1 que não vai recorrer do indeferimento da liminar no mandado de segurança impetrado.

Após a publicação desta reportagem, na manhã desta quarta (26), o Metrô informou que concordou na Justiça com o pagamento do cuidador e do aluguel da casa adaptada, escolhida pela família, para o Thiago.

“O juiz determinou a casa adaptada, uma acompanhante para a minha mãe. E o metrô simplesmente não cumpriu. O metrô já usou de todos os recursos e o juiz já indeferiu, como se diz. Ainda assim, o metrô aguarda. Já passou a data e até agora nada”, disse Vitor, irmão da vítima.

“O que a gente quer do metrô? A gente quer um pouco de dignidade. Só isso que a gente quer. Quero o que meu filho tem direito (…) Eu não vou desistir, não posso desistir, não posso me dar esse luxo. Se acontecer algo comigo, o que vai ser do Tiago?”, completou a mãe.

Para o advogado da família, João Tancredo, a empresa abandonou o funcionário após o acidente do agente de segurança.

“O caso do Tiago é um caso emblemático sobre a falta de segurança para os trabalhadores. Um trabalhador é colocado em extremo risco, sofre um dos danos mais graves e o empregador o abandona. O metrô nada fez. Mas não abandonou só o Tiago não, mas a família dele também. A vida ficou muito difícil para eles”, disse o advogado.

O que o metrô diz

Procurado pelo G1, o MetrôRio informou que, desde o dia do acidente, “presta todo o auxílio necessário para que Tiago esteja bem assistido”.

A concessionária disse ainda que disponibilizou todos os tratamentos de saúde necessários durante sua internação. Além disso, segundo a concessionária, uma estrutura médica domiciliar foi montada para que ele continuasse sendo cuidado e atendido de acordo com as orientações dos especialistas.

A empresa afirmou que paga uma pensão ao funcionário para sua mãe. No entanto, não respondeu sobre não cumprir todas as exigências da tutela, determinadas pela Justiça. Afirmou também que não vai recorrer do indeferimento da liminar no mandado de segurança impetrado.

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