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Justiça Militar adia pela segunda vez julgamento por mortes de músico e catador em Guadalupe, em 2019

Notícia Externa

Por G1 Rio – 29/06/2021

A Justiça Militar no Rio de Janeiro adiou pela segunda vez o julgamento de 12 militares réus pelas mortes do músico Evaldo dos Santos Rosa, de 51 anos, e do catador de latinhas Luciano Macedo, em abril de 2019, na Zona Norte.

A princípio, o julgamento havia sido marcado para o dia 7 de abril deste ano – exatos dois anos depois do crime. Entretanto, foi adiado e remarcado, no início deste mês, para o dia 7 de julho – dois anos e três meses depois dos assassinatos.

Contudo, nesta terça-feira (29), a juíza Mariana Queiroz Aquino, da 1ª Auditoria da 1ª Circunscrição Judiciária Militar (CJM), acolheu novamente o pedido de adiamento feito pela defesa dos militares.

De acordo com a juíza, o advogado dos militares, o senhor Paulo Henrique Pinto de Mello, alegou ser do grupo de risco para a Covid-19 e disse estar em tratamento fonoaudiólogo em decorrência de sequelas deixadas pela doença, além de não ter tomado ainda a segunda dose da vacina.

A juíza decidiu remarcar o julgamento para o dia 15 de setembro.

Carro fuzilado

Evaldo foi baleado pelos militares enquanto dirigia seu carro na Estrada do Camboatá, perto da Avenida Brasil, em Guadalupe. O músico estava com a família no veículo, a caminho de “chá de bebê”.

Luciano, que estava próximo ao local onde o carro do músico foi fuzilado, também foi atingido quando tentava socorrer Evaldo. O homem morreu dias depois, no hospital.

O laudo da perícia apontou que o carro de Evaldo foi atingido por 62 tiros. Ao todo, os militares atiraram 257 vezes.

MPM quer condenação de oito militares

Em fevereiro, como mostrou a GloboNews, o Ministério Público Militar (MPM) pediu à Justiça a condenação de oito dos 12 militares.

São eles:

  • Tenente Ítalo da Silva Nunes
  • Sargento Fábio Henrique Souza Braz da Silva
  • Cabo Leonardo Oliveira de Souza,
  • Soldado Gabriel Christian Honorato
  • Soldado Matheus Sant’Anna
  • Soldado Marlon Conceição da Silva
  • Soldado João Lucas da Costa Gonçalo
  • Soldado Gabriel da Silva de Barros Lins

O MPM também quer a condenação dos oito militares pela tentativa de homicídio do sogro de Evaldo, Sérgio Gonçalves de Araújo, que também foi baleado, mas sobreviveu. Ele estava no banco do carona do carro.

Além de Evaldo e do sogro, também estavam no veículo o filho de 7 anos do músico, a esposa dele e uma amiga da família – que não foram atingidos pelos disparos.

“Os acusados definitivamente, por prova segura e inconteste dos autos, não estavam em situação de legítima defesa. Os militares apertaram os gatilhos de seus fuzis sem previamente certificarem-se de quem eram as pessoas à sua frente”, escreveram a promotora Najla Nassif Palma e o procurador de Justiça Militar Luciano Moreira Gorrilhas, nas alegações finais.

A promotora e o procurador acrescentaram que os militares apertaram os gatilhos “porque desejavam executar as pessoas que estavam dentro do veículo, acreditando que ali se encontravam os criminosos com quem haviam trocado disparos anteriormente”.

No mesmo documento, o MPM pediu a absolvição de outros quatro militares que participaram da ação, mas que afirmaram em depoimento à Justiça que não efetuaram nenhum tiro. São eles:

  • Cabo Paulo Henrique Araújo Leite
  • Soldado Wilian Patrick Pinto Nascimento
  • Soldado Vitor Borges de Oliveira
  • Soldado Leonardo Delfino Costa.Nas alegações finais, o MPM também pediu a absolvição de todos os 12 denunciados pelo crime de omissão de socorro.

Alegações finais da defesa

Na alegações finais do processo entregues à Justiça Militar em março deste ano, a defesa dos militares argumentou que os réus atuaram em “legítima defesa” e que trafegar pelas ruas do Rio, “naquela época e atualmente, são verdadeiras “roletas russas”.

A defesa acrescentou que Evaldo e estava em um “Ford Ka branco, com vidros filmados, pesado pela capacidade total de ocupantes” e que o veículo seria “semelhante ao utilizado pela P2 [serviço reservado da Polícia Militar]”.

Segundo o advogado de defesa, o músico passou “por todas as barreiras dos traficantes em dia de guerra na favela” e opinou que, “infelizmente, ele [Evaldo] se coloca em risco juntamente com todos os que estão consigo nessa situação”.