Cada notícia de criança baleada que Luciana Pimenta assiste faz com que ela volte ao dia 16 de março deste ano, quando seu filho, Kauan Peixoto, de 12 anos, morreu após ser atingido por dois disparos ao sair para comprar um lanche na Chatuba, em Mesquita, na Baixada Fluminense. Ao ver a repercussão da morte da menina Ágatha Félix, de 8 anos, no Complexo do Alemão, Luciana sentiu, além de tristeza, angústia por continuar sem respostas para o assassinato do filho, quase sete meses após o crime. Segundo reportagem do jornal O Globo, a Polícia Civil ainda não chegou à autoria de nenhuma das cinco mortes de crianças em 2019.
— Toda vez que o advogado entra em contato com a delegacia, dizem que as investigações estão em andamento. É um peso que carrego todos os dias. A gente acorda, liga a TV e é mais uma criança. Isso se repete o tempo inteiro — desabafa Luciana.
A mulher mora com os outros três filhos no bairro Nova Cidade, em Nilópolis. Com eles, tenta retomar a rotina após a tragédia:
— A gente sobrevive. Tem horas em que a ficha cai, aí bate aquela tristeza. Mas a gente tem que continuar sobrevivendo. Eu prometi a ele que sobreviveria.
Desde que Kauan morreu, Luciana começou a participar de movimentos sociais com outras mães que tiveram seus filhos mortos. Tem frequentado eventos, reuniões e se solidariza com a dor de outras famílias.
— Nessas horas, não existem palavras que consolem o coração de uma mãe que perdeu um filho como perdemos. Mas diria à mãe da Ágatha que tenha força e que transforme o luto em luta, com ajuda de outras mães que tenham passado pelo mesmo.
Kauan passava o fim de semana com o pai, na Chatuba, e tinha ido comprar um lanche, quando foi alvejado. Luciana disse que o laudo do IML confirmou que um dos tiros acertou um dos pulmões do menino. A Polícia Civil não confirma. Questionada sobre as investigações, disse apenas que a Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) continua investigando o crime.
ONG para crianças
Kauan Peixoto completaria 13 anos no dia 9 deste mês. O estudante sonhava ser policial militar. Quase sete meses depois de sua morte, Luciana Pimenta pretende colocar em prática a promessa que fez ao menino no dia em que ele foi sepultado, em Nilópolis: criar uma ONG.
— No dia em que ele foi sepultado, fiz essa promessa de contribuir para que outras mães não passem por isso. É o meu projeto. Acho que se as crianças e jovens estiverem dentro de um espaço praticando esportes, fazendo cursos, vão estar mais seguros. A polícia vai ter mais cuidado para entrar nessas comunidades — conta Luciana.
A ideia é que a ONG tenha aulas de dança, esportes e cursos para crianças e adolescentes. Inicialmente, vai funcionar no bairro Nova Cidade, em Nilópolis, onde a família vive, mas ela pretende expandir:
— Estou buscando parcerias. Minha ideia é, futuramente, levar essa ONG para outras comunidades. Toda minha luta é por ele.
Voluntários que queiram doar computadores ou participar da ONG, como professores, podem fazer contato pelo email luciana2018.feilmorenalinda@gmail.com.