João Tancredo – Escritório de Advocacia

Atendente baleado por bombeiro em lanchonete afirma que está satisfeito com condenação: ‘A justiça foi feita’

Cristina Boeckel – G1 Rio – 28/07/2023

O atendente Matheus Domingos Carvalho afirmou no fim da manhã desta sexta-feira (28) que está satisfeito com a decisão da Justiça que condenou o bombeiro Paulo César Albuquerque a 12 anos de prisão em regime fechado.

Paulo César foi condenado por tentativa de homicídio contra Mateus durante uma discussão em um McDonald’s na Zona Oeste do Rio em maio do ano passado. A discussão que culminou com o bombeiro atirando no atendente foi motivada por um cupom de desconto de R$ 4.

“Eu tive que prestar meu depoimento novamente, foi bem difícil para mim ter que reviver tudo aquilo, vivenciar toda essa onda de emoções. Mas estou satisfeito, estou feliz com o posicionamento da Justiça. A justiça foi feita. Ele está preso, vai continuar por longos anos. Estou aliviado sobre essa situação toda. A minha família está aliviada”, disse Mateus.

A bala atingiu o rim esquerdo e o intestino grosso do atendente, que sobreviveu, mas precisou passar por cirurgias. Ele ainda sofre com as sequelas do tiro

“Agora vou focar nos meus tratamentos. Não está melhor, mas é um bom caminho andado. Agora eu tenho que continuar os meus tratamentos psicológicos, meus tratamentos físicos, e vida que segue. Muito feliz e realizado com a decisão da Justiça. Acordando todos os dias de manhã e sabendo que a Justiça foi feita e não passou impune, como acontece em muitos casos. Só tenho a agradecer”, afirmou Mateus.

A advogada de Matheus, Luísa Capanema Vieira, do escritório de advocacia João Tancredo, que atuou como assistente de acusação, também se considerou satisfeita.

“Saímos satisfeitos e esperançosos com o resultado do julgamento. Foi um julgamento longo, de nove horas de debates entre acusação e defesa e que sensibilizou os jurados pelos traumas vivenciados pelo jovem, que estava trabalhando no momento do crime para custear a faculdade de veterinária que ele sempre sonhou”, afirmou a advogada.

A defesa do bombeiro alega que o disparo foi acidental e aconteceu depois que ele escorregou no piso da lanchonete.

Um dos argumentos levantados pela defesa do bombeiro é que o tiro teria sido perpendicular, ou seja, de baixo para cima.

Durante o julgamento, nesta quinta-feira, Paulo também foi questionado por qual motivo deixou a lanchonete sem ajudar a vítima. Ele afirmou que não se lembrava do telefone dos bombeiros, mas disse que pediu ajuda para um amigo.

Indenização

Além da pena de prisão, o bombeiro também foi condenado a pagar uma indenização de R$ 100 mil à vítima por danos morais.

A defesa do bombeiro afirmou que vai recorrer da decisão e acredita que irá reverter o resultado. O advogado afirmou ainda que Paulo César Albuquerque não teve a intenção de disparar a arma de fogo.

O Corpo de Bombeiros disse que “repudia veementemente todo e qualquer ato criminoso”.

Relembre o caso

O caso aconteceu na unidade do McDonald’s de Taquara, na Zona Oeste do Rio. O desentendimento entre o bombeiro e o atendente começou após Paulo César exigir de Matheus um desconto de R$ 4 em seu pedido.

Segundo a vítima e outras testemunhas, o cliente estava no drive-thru da loja e queria adicionar um cupom promocional depois que o pedido já tinha sido fechado. Matheus teria informado que não seria possível.

Em seguida, Paulo César se irritou, quebrou a proteção de acrílico e deu um soco em Matheus, que revidou a agressão.

Imagens das câmeras de segurança do estabelecimento registram o momento em que o sargento entrou na loja com uma arma na mão.

Segundo testemunhas, Paulo entrou até a área de trabalho da lanchonete e atirou contra o atendente. Após isso, o bombeiro deixou o local, e Matheus caiu no chão, sendo amparado por um colega.

Sequelas

A bala atingiu o rim esquerdo e o intestino grosso de Matheus, que sobreviveu, mas precisou passar por cirurgias. Ele ainda sofre com as sequelas do tiro.

Após ser baleado, Matheus ficou dez dias internado, quando passou pela primeira cirurgia e perdeu o rim esquerdo.

Dois meses após o crime, o trabalhador passou por uma nova cirurgia, dessa vez com o objetivo de retirar a bala que ainda estava em seu corpo e reverter o procedimento de colostomia.

Nota da defesa de Paulo César Albuquerque

“A defesa do Sargento Albuquerque através do advogado Dr. Sandro Figueiredo, arguiu no plenário do júri as teses de ausência de dolo (quando não há intenção de matar), como tese secundária a desistência voluntária com a consequente desclassificação para lesão corporal.

Contudo, em que pese a tese de desclassificação para lesão corporal não ter sido acolhida, a disputa foi acirrada, sendo três votos para desclassificar e quatro votos para não desclassificar a conduta.

Por fim, a defesa por certo irá recorrer da decisão, e acredita muito que irá lograr êxito, pois todas as provas nos autos do processo, todos os depoimentos deixam claro que o acusado não teve a intenção de disparar a arma de fogo contra Matheus e que de fato o disparo foi acidental”.

Nota da defesa de Mateus Domingos Carvalho

“A defesa do Matheus, que atua como assistente de acusação, representada pelo Escritório João Tancredo, saiu satisfeita com o resultado do julgamento. Acreditamos que o júri ficou sensibilizado por todos os traumas vivenciados pelo Matheus desde o crime. A verdade é que a vítima enfrenta até hoje uma luta diária para retomar a sua vida diante das sequelas físicas e psíquicas que restou submetido. O nosso objetivo hoje é que o Matheus volte, aos poucos, a viver e consiga se reestabelecer emocionalmente e fisicamente.”

Nota do Corpo de Bombeiros

“O Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro esclarece que o militar segue preso, desde maio de 2022, no Grupamento Especial Prisional (GEP) da corporação, à disposição da Justiça. Ele responde a Conselho de Disciplina do CBMERJ, que atualmente está em fase final, e cujo resultado pode levá-lo a exclusão das fileiras da corporação.

O CBMERJ segue ao dispor das autoridades para colaborar nas investigações.

A corporação repudia veementemente todo e qualquer ato criminoso, assim como condutas ilícitas que transgridam os preceitos da ordem, da disciplina e da moral características da profissão de bombeiro militar.”